14/09/2017

Projeto da prefeitura que regulamenta o Uber em Blumenau chega ao Legislativo

Por Augusto Ittner
augusto.ittner@somosnsc.com.br 
Texto publicado no Jornal de Santa Catarina

Prof. Moisés Béio Cardoso comenta sobre negócios disruptivos
Uber. Quatro letrinhas que antes mesmo de os smartphones desembarcarem no mundo tecnológico já formavam um sobrenome de origem germânica e comum, diga-se de passagem, em algumas partes do Vale do Itajaí. Nos últimos 10 meses, porém, essa palavra que para uns é sinônimo de conforto, praticidade e economia no deslocamento e para outros é quase uma afronta, fez desembarcar nova polêmica em Blumenau. E aí não teve jeito: a discussão quanto a prós e contras do tal serviço contratado via aplicativo ganhou as terras desbravadas por Hermann Bruno Otto nas rodinhas de conversa dos cafezinhos de esquina.

Mas dessa vez o debate ficou mais intenso, deixou os entroncamentos cafezeiros da rua Curt Hering e chegou à Alameda Duque de Caxias. Hoje, formalmente – embora já tenha chegado às mãos da Mesa Diretora na terça-feira –, um projeto de lei de autoria da prefeitura de Blumenau passa a tramitar na Câmara de Vereadores e pretende regulamentar os serviços de contratação de motoristas via aplicativos – ou, burocraticamente, como prevê a matéria, a “exploração da atividade econômica privada de transporte individual de passageiros”. Na prática, impõe uma série de exigências para se exercer a atividade na cidade.



Após pressão por parte da Coopertáxi, o município elaborou a minuta que será apreciada e discutida pelo Legislativo. Conforme o presidente do Seterb, Carlos Lange, o propósito é alinhar a competitividade entre os dois serviços:

Não queremos equiparar os preços a ponto de igualar, mas assemelhar. São duas naturezas de serviços distintas. Uma é pública (táxis) e outra é privada (Uber). Cada um que fique com o seu quadrado, digamos assim, porém queremos privilegiar o cidadão que mora em Blumenau e contribui direta ou indiretamente para a economia da cidade e paga impostos – avalia.

A previsão repassada pelo presidente da Câmara, Marcos da Rosa (DEM), é de que na terça-feira da próxima semana a proposta chegue à Comissão de Constituição, Legislação e Justiça (CCJ). Caso não haja pedido de informação e o parecer já seja dado, irá à Comissão de Finanças, Orçamento, Tributação e Fiscalização.

Sem empecilhos, o texto chegará na próxima quinta-feira à Comissão de Transportes. Tudo, porém, é com base em uma situação sem qualquer tipo de obstáculo no processo – algo improvável para um projeto dessa complexidade.

O presidente da Casa calcula que em um cenário favorável, o projeto poderá ir a plenário em até 45 dias, muito embora a própria prefeitura tenha pedido uma discussão mais aprofundada a respeito do tema, sem pressa. A se confirmar a previsão, a regulamentação pode ser sancionada ainda neste ano.

Taxistas comemoram, mas veem proposta com cautela O presidente da Coopertáxi, Ranieri Gomes, diz ver com bons olhos a regulamentação, até porque a cobrança sobre a prefeitura de Blumenau foi feita pela própria categoria. Embora tenha ficado aquém dos pedidos – os taxistas queriam que o município limitasse o número de veículos do Uber em atuação –, Ranieri crê que esse é o primeiro passo para tentar igualar e trazer uma concorrência, segundo ele, mais leal:

Acredito que não exista cafezinho de graça. O ISS tem que ser cobrado, os carros têm que ser fiscalizados, assim como é com os táxis. Quem ficar no Uber vai ser profissional mesmo. Não será só mais um bico. Tem gente desempregada que vê isso (o Uber) como a única porta e nós não queremos fechá-la. Longe disso. Queremos regulamentar para equiparar a situação e saber com quem estamos concorrendo – pondera.

Para o especialista em novas mídias e doutorando em Comunicação e Linguagem, Moisés Cardoso, o Béio, a regulamentação do Uber – e de todos os aplicativos semelhantes de modo geral – terá como consequência o aumento no valor do serviço. A explicação é simples de entender: hoje, o preço que se paga em uma corrida varia de acordo com a lei da oferta e procura. Quantos mais carros à disposição, menor o montante a ser desembolsado pelo cliente. Com mais regras, taxas e impostos a serem seguidos, a tendência é de que haja uma evasão de motoristas. Isso diminuirá o número de carros à disposição.

Isso não é uma especulação. É uma previsão pela própria regra de funcionamento do aplicativo – comenta.

Béio se posiciona contrário à proposta da prefeitura e diz que isso quebra a ideia do Uber e de outros serviços semelhantes:

Quando o município coloca esse conjunto de regras ele causa engessamento à proposta do negócio. Exemplo: imagine que daqui a pouco no grupo Minha Muamba, do Facebook, onde as pessoas comercializam coisas, haja uma normativa para tributar isso. Não faz sentido. O Uber nasceu como uma alternativa para driblar problemas e dar oportunidades para quem queira trabalhar.

O projeto
- O direito à exploração da atividade econômica privada de transporte individual remunerado de passageiros será conferido às Operadoras de Tecnologia de Transporte (OTTs), na qual se inclui o Uber e outros, mediante autorização concedida pelo Seterb.

- É restrita às OTTs com sede ou filial em Blumenau, devidamente autorizadas pelo Seterb.
- A autorização das OTTs terá validade de 12 meses.

- A atividade está sujeita à cobrança do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN).

- Poderão ser cadastrados pelas OTTs os motoristas devidamente inscritos no Cadastro Municipal de Condutores de Blumenau.

- Entre outras exigências, os condutores devem apresentar comprovante de residência de Blumenau.

- Poderão ser cadastrados veículos que: sejam aprovados em vistoria do Seterb; tenham no máximo cinco anos desde a fabricação; contem com registro e licenciamento expedido em Blumenau.

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